quinta-feira, 5 de julho de 2012

Conto "Empresarial Tyr"


Este conto começou a ser escrito no dia 4 de junho de 2012 e encerrou no dia 22 de junho de 2012.

Um novo emprego como segurança de um prédio moderno se mostra perigoso e revela mistérios antigos e obscuros.




Hoje é um dia marcante desse ano. Estou indo para o meu primeiro emprego.
Tudo bem que não é na minha área, mas é algo que eu posso dizer que terei experiência, então, está bom. Além disso, vai me ajudar a pagar as contas.
Ah, já ía me esquecendo de dizer em quê vou trabalhar! Vou ser vigia noturno do empresarial Tyr, aqui do centro financeiro da cidade. Pagam bem e é tranquilo... Que eu saiba.




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Este é o prédio visto de fora. Bonito, não? Estou indo agora pegar instruções com os guardas diurnos. Estou ansioso demais para começar a trabalhar!


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 Foi tudo tranquilo nas instruções, só uma que me deixou totalmente encabulado. O cara falou para eu não ir de jeito nenhum para o quarto no fundo do corredor do porão. Eu perguntei o porquê dessa advertência mas a resposta foi "apenas não vá.". O que será que tem ali, hein?




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 É, estou aqui, são 18h e estou no meu primeiro dia de trabalho.
Por enquanto eu não vou arriscar de ir naquela sala lá, mas vou ficar de olhos bem abertos para a câmera que fica no começo do corredor.
Se nada acontecer em dois dias, talvez eu vá lá. Sou bastante curioso!





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Até agora, a única coisa que aconteceu nesse prédio foi uma rápida queda de energia às 02:15... Estranhei ter ficado apenas um monitor ligado... Logo o do quarto proibido..





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Esse é o corredor proibido... E aquela porta lá é o mundo escondido. Sempre fechada, sempre mantendo dentro dela algo que não pode ser revelado ao mundo...




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Essa noite incrivelmente aconteceu algo bem parecido com a noite anterior. Às 02:15 houve uma forte queda de energia e adivinha só qual foi o monitor que ficou aceso...?
Isso foi muito estranho. Estou começando a achar que tem algo realmente estranho naquela sala...




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 São 02:13 e eu estou num corredor próximo à aquele que aparece na tela... Sim, eu sei que é amedrontador, mas eu quero ver o que é que há com essa sala...


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 Como esperado, às 02:15 houve uma queda bruta de energia. Porém, o corredor proibido ficou com as luzes acesas. Será que ele tem algum tipo de energia própria?
A energia voltou com poucos segundos. Vou ficar aqui mais um tempo pra ver se algo acontece....



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Fui na caixa de energia e vi que estava tudo certo. Inclusive, ela estava empoeirada na tampa que cobre tudo e sem nenhuma marca de mão. Essa hipótese de ter alguém mexendo lá foi descartada. Agora tem algo muito estranho que está nesse lugar e eu vou explicar o porquê!
Nessa manhã, quando fui fazer a troca de turno, comentei com o vigia da manhã que estavam acontecendo quedas de energia durante a madrugada, quedas totalmente estranhas, principalmente por serem na mesma hora. O Everaldo (esse é o nome dele) olhou para mim com cara de espanto e soltou "Ixi, com você também, rapaz?" Como assim comigo também??
Perguntei do que ele tava falando e ele disse que não era nada, negou umas três vezes e disse que não tinha nada para falar. Não quis ser chato e desisti.
Tenho aqui o número do antigo vigia noturno e estou pensando em ligar para ele, pra ver se ele pode me ajudar nessa, e aí? Ligo? Ou espero mais uma noite de tocaia no corredor pra ver se algo acontece?


 


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Essa noite eu descobri que tenho medo daquele corredor.
Era 02:10 quando eu cheguei lá. Uma luz do corredor estava piscando, como se estivesse fraca, e isso deu um clima muito mais sombrio. Às 02:14:57 (sim, estava olhando meu relógio digital) eu ouvi um estalo alto vindo de dentro da última sala e meu coração disparou. Três segundos depois, pontualmente, às 02:15, a porta se abriu e fechou fortemente, como se alguém com raiva tivesse entrado.
Não consegui pensar muito, um frio percorreu o meu corpo e eu saí correndo, passei as escadas tão rápido que não sei como não caí, até chegar à sala de controle dos vídeos. A luz tinha voltado e pelo o que pude ver, a situação estava "normal" no corredor.
Tem algo errado lá, nunca tive tanta certeza. O que eu ouvi e senti foi real!



 

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Decidi ligar para o ex-vigia noturno. Depois de negar um pouco sobre ter acontecido algo com ele, ele disse que eu deveria não ir e nem olhar muito para lá, assim como ele já havia me dito no começo, porque, segundo ele, as consequências podem ser IRREVERSÍVEIS.
Agora estou com muito medo mesmo de ficar por aqui, e adivinha que horas são? 02:10. Estou na sala de monitoramento e estou evitando de ficar olhando para a tela do corredor.


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Coloquei o despertador do relógio para tocar às 02:15 e fiquei observando as telas quando noto um um movimento na tela do corredor. Viro o olhar e percebo uma mancha negra na tela, parada, no meio do corredor. A mancha não era muito grande, chegava até menos da metade da parede. Me aproximei da tela para ver se conseguia ver mais algum detalhe e assim que cheguei mais perto o relógio apitou 02:15 e a sombra consumiu toda a tela em negro. EU VI o milésimo de segundo em que ela se expandiu no corredor, deixou tudo escuro e fez eu sentir um frio por todo o corpo. Com o susto eu caí para trás e bati a cabeça no chão, devo ter apagado por 1 segundo, o suficiente para tudo voltar "ao normal". Cheguei a me perguntar se não seria tudo um sonho (ou devo dizer pesadelo?) mas mudei de opinião quando olhei para a tela novamente e vi uma mancha, porém agora branca, e que dessa vez parecia estar na câmera, como se algo tivesse colado no vidro. Estou com tanto medo que me falta fôlego. E agora? Vou lá olhar pra ver se tem algo na câmera ou ligo para alguém e informo da minha batida na cabeça, para ser liberado logo?
Ps.: São 02:53.




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Liguei para meu supervisor de madrugada e falei do meu acidente no trabalho, porém não a causa. Ele chegou depois de meia hora e disse para eu tirar a outra noite de folga. Às 8 da manhã eu liguei novamente pro outro vigia noturno, o que me negou qualquer história, e disse o que tinha acontecido comigo. Ele disse que ia vir aqui em casa me contar tudo. Estou nervoso, quero saber logo que história macabra há naquele corredor, que mistérios se escondem atrás daquela porta!




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Ele chegou sério e no começo só eu que falei. Contei tudo o que tinha acontecido de estranho, a porta, a luz, a hora, a queda. Aos poucos ele foi baixando o olhar e enquanto eu estava fazendo as perguntas, ele me interrompeu: "Eu sinto muito..."
Olhei confuso para ele e pedi para que ele me explicasse logo tudo aquilo, pois eu estava assustado e confuso.
Ele abriu a bolsa e tirou de dentro dela uma espécie de caderno de anotações com diversos recortes de jornais colados nas páginas e entregou para mim. "Isso vai te dar as respostas que precisa. Agora fique longe daquele corredor e do quarto, ou eles não vão te deixar em paz."
Ele já foi embora, não falou muito mais que isso. Vou agora abrir o caderno e ler...





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Comecei a folhear aquele caderno e vi várias notícias sobre uma chacina que tinha acontecido na década de 60, onde mãe e filha foram brutalmente assassinadas após um surto do homem da família. No começo eu não estava associando direito as coisas, mas depois eu entendi... Ainda mais quando eu abri na página com a foto do corpo da garota. Reconhecem esse corredor? E percebem que ele não sofreu nenhuma alteração da década de 60 para cá? Senti calafrios ao descobrir que na porta ao fundo do corredor fica o banheiro onde foi encontrada a mãe na banheira. Mas o que mais assusta nesta história toda é o que acontece com o pai depois de tudo isso... Ainda possuído por muita raiva (ou seja lá o que esse homem tinha) ele começou a arrancar membros do corpo a sangue frio com um cutelo e desmembrou-se quase completamente, até que morreu de tanto sangrar com apenas um braço, a cabeça e o tronco no lugar.
Algum tempo depois, um homem comprou a casa onde houve a chacina, mas não sabia do que tinha acontecido pois era estrangeiro. Depois de 4 meses morando lá, ele cometeu a mesma atrocidade com a mulher e o filho bebê.
Depois disso, ninguém mais quis comprar a casa, até que um empresário visionário e místico quis comprar para contruir o Tyr (que são as iniciais do homem que cometeu a primeira chacina... Macabro...) mas deixou esse corredor intacto, pois dizia que destruí-lo seria liberar um mal maior ainda...
Parece que o feitiço foi para cima dele pois ele foi encontrado enforcado no meio do corredor na década de 90.
E para completar meu horror, vi 7 notícias de vigias encontrados mortos próximo ao corredor desde que o prédio foi construído...






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Liguei para meu supervisor mas ele me disse que não poderia me liberar essa noite, pois estava sem ninguém para me substituir com tanta agilidade. Pediu desculpas e disse que depois de hoje eu poderia me desligar da empresa.
Bem, eu vou ter que ir!
Desejem-me sorte, são 22:16, estou saindo de casa para ir para lá agora e essa noite está muito chuvosa e com quedas de energia aqui em casa...




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São 01:55 da manhã... Estou vivo... Mas hoje as coisas parecem estar piores do que nunca...
Houveram várias quedas de energia aqui também e em todas elas a tela do monitor do corredor se manteve aceso. E o que mais me deixou nervoso foi que em um momento, não lembro que horas, eu pude ver um rosto na tela, um rosto inerte, como se fosse de alguém que já não está entre nós. Foi muito rápido, não consegui ver mais detalhes...
Aguardo ansioso para que passe logo das 02:15...




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 Agora são 11:24 e eu estou deitado em uma cama de hospital recebendo uma medicação para dores. Não estranhem, vou contar tudo o que aconteceu esta noite...
Por volta das 02:10 houve uma grande queda de energia e até o monitor do corredor apagou-se. Poucos segundos após a queda, ouvi um grito fino, como se fosse de uma criança, uma garotinha. Estranhei estar tão alto e ainda mais porque ele estava demorando demais, assim como a queda de energia. Esperei cerca de 2 minutos e continuava a ouvir o grito da criança e a luz continuava apagada. De repente, a luz do monitor do corredor acendeu e eu pude ver (EU TENHO CERTEZA QUE VI) um homem todo de preto indo em direção ao quarto do fundo. Meu coração disparou e eu quis correr, mas minhas pernas estavam bambas - e eu queria ver o que ia acontecer. Uns 3 segundos depois que ele entrou no quarto, ouvi um barulho alto e vi a porta se abrir sozinha e fechar-se violentamente. A essa altura, eu já estava achando que era um pesadelo, ou algo do tipo. Continuei com o olhar fixo e de repente saiu de lá uma garotinha vestida da mesma maneira que a encontrada morta naquele corredor. Tinha a cabeça baixa e deixava um rastro de sangue onde pisava. Quando chegou no meio do corredor, olhou para a câmera e eu pude ver em meio à escuridão daquele rosto dois olhos grandes, que brilhavam de uma maneira que parecia que ia perfurar meu corpo. A partir desse momento, as lembranças que tenho são muito vagas e não sei se são verdade... Me vi parado, em frente ao corredor, que estava coberto de sangue até o teto, depois tenho flashes de memória de estar indo em direção ao quarto e depois só lembro de estar em cima de uma maca dentro da ambulância.
Perguntei para o paramédico o que tinha acontecido e ele me perguntou: "Você não se lembra de ter cortado os próprios pulsos?" Acho que depois dessa pergunta eu apaguei de novo e acordei aqui no quarto do hospital. A televisão estava ligada e eu pude ver quando a repórter falou: "Massacre do Tyr completa 50 anos nesta sexta...".
E eu fui o presente de aniversário.





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Eu tive alta do hospital às 17:25 e estava indo para casa a pé, já que era a apenas 3 quarteirões de distância. Estava escurecendo e eu comecei a sentir uma sensação de que estava sendo perseguido. Olhava para trás e sentia que um vulto tentava se esconder atrás de alguma coisa. Percebi que estava praticamente sozinho na rua e apertei o passo. Minha respiração ficou ofegante e quando vi eu já estava correndo. Fui surpreendido por uma criança que apareceu no meio da rua do nada - trombei nela e caí com a cara no chão. Devo ter apagado por um segundo e quando me levantei, ela não estava mais lá, para meu desespero, o que estava no lugar dela era uma enorme poça de sangue. Me levantei desesperado e comecei a correr o mais rápido que pude e finalmente cheguei em casa. A essa altura tudo já estava escuro e tive muita dificuldade em conseguir colocar a chave certa na fechadura. Entrei em casa e senti algo diferente. Chamei pelos meus pais mas não ouvi nada. Foi aí que as luzes se apagaram e eu comecei a gritar por socorro - gritos que foram interrompidos por uma mão encobrindo meu rosto com gaze embebido em um líquido que me fez apagar.
Acordei amarrado em uma cadeira na sala de jantar da minha casa e a única luz acesa era de um abajur que ficava no canto do outro cômodo. Aí uma voz emergiu da escuridão: "não ouse gritar, rapaz." Perguntei quem era, mas tinha a impressão de que conhecia aquela voz. Não obtive resposta e perguntei o que ele queria. "Por que você não morreu? Seu inútil."
Enquanto ficava apavorado me veio uma lembrança rápida. "EU SEI QUEM É VOCÊ!!" falei mas não fui respondido.
"Everaldo... Por que você está fazendo isso?"

(Continua... Preciso tomar meu remédio para dor)




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Perguntei de novo porque ele estava fazendo aquilo comigo e fiquei atônito com a resposta...
"Você não entende, minha irmã tem fome, muita fome, e se eu não alimentá-la, eu serei a comida!" Ele disse, num tom meio desesperado.
"Como assim cara, quem é sua irmã?" eu não estava entendendo.
"Ah, você conhece... Uma pena que ela não é muito de falar... Não é, irmãzinha?"
Comecei a sentir uma respiração na minha nuca e aos poucos foi surgindo um som que parecia vir das profundezas de uma garganta obscura. Meu corpo estremeceu, pensei que era meu fim.
"Pelo menos diga aos meus pais que eu os amo, por favor!!" supliquei.
Logo depois que eu disse isso ouvi um barulho de pancada muito forte e senti o chão vibrando. Alguém tinha sido derrubado por uma pancada.
"Filho? Você está bem???" ouvi a voz do meu pai e consegui ver o rosto do meu velho surgindo das trevas. Respirei aliviado e enquanto ele me desamarrava da cadeira eu chorava e a polícia chegava.
Bem, agora já é a manhã seguinte ao acontecido e estou me vendo nos noticiários como sendo a vítima que escapou dos assassinatos do Tyr. Descobri que naquela família insana havia um quarto integrante, o Everaldo, que na época tinha apenas 4 meses de idade e foi esquecido pelo pai dentro do berço.
A imprensa culpa o trauma que ele viveu como a causa pelo que ele fazia... Mas eu sei que não era só isso... Eu vi, eu senti... E às vezes acho que não estou totalmente só.


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